Em 21 de agosto de 2025, a Polícia Federal revelou ter encontrado, no celular do ex-presidente Jair Bolsonaro, um rascunho de 33 páginas de um pedido de asilo político ao presidente da Argentina, Javier Milei. O documento foi salvo em 10 de fevereiro de 2024, apenas dois dias após o passaporte de Bolsonaro ter sido apreendido durante a Operação Tempus Veritatis, que investiga a trama golpista de 2022.
O texto, em formato editável e sem assinatura, traz a alegação de que Bolsonaro seria vítima de perseguição política no Brasil. O rascunho cita tratados internacionais como a Convenção de Caracas de 1954, o Pacto de San José da Costa Rica, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e resoluções da ONU, em uma tentativa de dar fundamentação jurídica ao pedido.
Trechos apontam que o ex-presidente se dizia alvo de “medidas cautelares injustas”, numa clara estratégia de construir uma narrativa internacional de perseguição.
Indícios de rota de fuga
A PF destacou a coincidência entre a data de criação do documento e a estadia de Bolsonaro na Embaixada da Hungria, entre 12 e 14 de fevereiro de 2024. Para os investigadores, isso reforça a hipótese de que o ex-presidente buscava uma rota diplomática de evasão, articulando alternativas caso houvesse avanço das medidas judiciais.
Com base nesses elementos, a Polícia Federal concluiu que existe risco de fuga comprovado e recomendou o indiciamento de Jair Bolsonaro e de seu filho Eduardo pelos crimes de coação no curso do processo e tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito.
Quadro das informações principais
Fonte |
Informação encontrada |
Contexto |
Polícia Federal |
Documento de 33 páginas |
Rascunho salvo em 10/02/2024 |
Conteúdo do documento |
Fundamentação jurídica |
Citação de tratados internacionais e alegação de perseguição |
Conclusão da PF |
Risco de fuga |
Recomendação de indiciamento de Jair e Eduardo Bolsonaro |
Linha do tempo |
12–14/02/2024 |
Estadia na Embaixada da Hungria após salvar o arquivo |
STF |
Alexandre de Moraes |
Confirma risco de fuga e cobra resposta da defesa |
Análise interpretativa
O material apreendido acrescenta um novo patamar de gravidade ao processo. Ao elaborar um pedido de asilo, mesmo sem enviá-lo oficialmente, Bolsonaro demonstrou preparar-se para descumprir medidas judiciais, reforçando a avaliação de que não se trata apenas de especulação, mas de uma ação preventiva contra eventual prisão.
A estratégia de invocar tratados internacionais sugere tentativa de internacionalizar sua defesa, mas, ao mesmo tempo, evidencia um reconhecimento implícito de fragilidade no cenário jurídico interno.
Perspectivas e posicionamentos institucionais
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Polícia Federal: sustenta que o rascunho é prova suficiente para configurar risco de fuga e recomenda indiciamento imediato.
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Ministro Alexandre de Moraes (STF): determinou prazo de 48 horas para que a defesa de Bolsonaro se manifeste sobre o documento. Reforçou que a medida de prisão domiciliar preventiva segue válida diante do risco elevado.
O julgamento no Supremo Tribunal Federal, marcado entre 2 e 12 de setembro de 2025, ganha contornos decisivos após essa revelação. Caso as conclusões da PF sejam confirmadas, a defesa de Bolsonaro enfrentará dificuldades para sustentar a narrativa de perseguição política, e o processo poderá consolidar sua inelegibilidade e ampliar as sanções penais.
Conclusão
O rascunho de pedido de asilo encontrado no celular de Jair Bolsonaro não é apenas um detalhe documental, mas um indício robusto de que o ex-presidente cogitou abandonar o país para escapar da Justiça. A descoberta fortalece o entendimento de que havia uma estratégia planejada de evasão, o que agrava seu quadro jurídico e político às vésperas do julgamento no STF.
A pressão institucional aumenta e a tendência é de que a Suprema Corte endosse a avaliação da Polícia Federal, consolidando a visão de que Bolsonaro representa risco concreto de descumprimento das leis brasileiras.
* Com informações das fontes: Agência Brasil, Brasil de Fato, CNN Brasil, Reuters, The Guardian, UOL e Estado de Minas.