O encontro entre Donald Trump e Luiz Inácio Lula da Silva em Kuala Lumpur, durante a cúpula da ASEAN, foi marcado por um verdadeiro duelo de blefes. Ambos chegaram ao salão com linguagem corporal calculada e evitaram concessões explícitas, adotando expressões neutras e gestos sutis. As sessões abertas, restritas a declarações protocolares, deram lugar a negociações fechadas nas quais o principal recurso utilizado foi a tática do jogo do blefe: nenhum dos dois se comprometeu com propostas concretas, mantendo o suspense sobre possíveis avanços em pautas sensíveis como acordos tarifários, investimentos e diplomacia regional.
O histórico recente revela que Brasil e Estados Unidos atravessam disputas comerciais e divergências sobre posturas políticas no continente americano. Lula entrou na reunião disposto a apresentar o Brasil como interlocutor para crises e a defender abertura comercial via Mercosul, mas sem demonstrar urgência nos movimentos. Trump contrapôs, demonstrando intenção de reaproximação comercial, mas usando ambiguidades para reforçar sua posição de força. Em vários momentos, ambos recorreram ao blefe: deram declarações públicas em tom moderado, enquanto mantinham conversas paralelas por meio de suas equipes negociadoras, apostando em manter cartas ocultas e evitar revelar pontos de recuo ou avanço.
O método do ‘poker face’ ficou evidente no silêncio sobre temas centrais como sanções, cotas de exportação e mediação de conflitos. A estratégia de ambos foi provocar dúvidas e manter o adversário pressionado, reforçando a tensão e transferindo o debate intenso para interlocutores técnicos e assessores diretos. O texto oficial do encontro, divulgado após as reuniões, reforçou esse jogo de blefe: valorizou o diálogo futuro, destacou avanços potenciais, mas evitou qualquer anúncio concreto ou compromisso além do básico esperado.
A repercussão no Mercosul reflete as ambiguidades do encontro. Líderes favoráveis defendem que o jogo de dissimulação abre espaço para negociações futuras e evita rupturas imediatas, permitindo que interesses nacionais sejam preservados. Por outro lado, críticos alertam que esse excesso de blefe emperra decisões, gera desconfiança nos parceiros regionais e dificulta avanços consistentes para o bloco, especialmente diante da volatilidade internacional.
A reunião em Kuala Lumpur é emblemática justamente pelo jogo de cartas encobertas: Trump e Lula, dois líderes experientes, apostaram ambos no blefe e no ‘poker face’ para preservar vantagens negociadoras. O resultado é uma nova fase de incerteza estratégica para o Mercosul e seus países, em que a diplomacia se move sob o risco calculado de gestos, palavras e ausências.
* Vicente Barone é analista político, editor chefe do Grupo @HORA de Comunicação, esteve à frente de diversas campanhas eleitorais como consultor político e de marketing, foi executivo de marketing em empresas nacionais e multinacionais, palestrante nacional e internacional para temas de marketing social, cultural, esportivo e de trasnporte coletivo, além de ministrar aulas como professor na área para 3º e 4º graus - www.barone.adm.br
(**) Com informações das fontes: CNN Brasil, G1, BBC News Brasil, Poder360, R7, G1 e Comex do Brasil.