Na noite do dia 15 de setembro, Ruy Ferraz Fontes, que há décadas liderou investigações contra o Primeiro Comando da Capital (PCC), foi brutalmente executado em frente à sede da Prefeitura de Praia Grande, onde exercia o cargo de secretário de Administração. Segundo relatos de testemunhas e imagens de câmeras de segurança, o ex-delegado foi seguido por um veículo que, estrategicamente, o encurralou contra um ônibus. Criminosos fortemente armados com fuzis saíram da caminhonete usada na perseguição, disparando com precisão para garantir a eliminação rápida da vítima. A ação foi tão calculada que o carro dos agressores foi incendiado em fuga, em clara tentativa de apagar rastros.
A trajetória de Fontes na Polícia Civil de São Paulo o colocou na linha de frente do enfrentamento ao PCC, facção que domina o crime organizado no estado. Liderou operações decisivas que culminaram na prisão de líderes históricos e na interrupção de esquemas complexos de tráfico, lavagem de dinheiro e roubos com impacto nacional. Essa atuação, repreendida nas camadas do crime organizado, transformou o ex-delegado em alvo frequente de ameaças que, infelizmente, culminaram no assassinato.
"Estou estarrecido. É muita ousadia. Uma ação muito planejada, por tudo que me foi relatado. O delegado Ruy percebeu que estava sendo atacado, tentou escapar da emboscada, mas foi covardemente assassinado.", disse o Secret´rio de Seguerança do Estado de SP, Guilherme Derrite.
O modus operandi da ação reflete o alto grau de organização, capacitação e capacidade logística da facção criminosa, que não hesita em desafiar o aparato estadual em áreas estratégicas. A perseguição precisa, o emprego de armamentos pesados e o cuidado em eliminar provas evidenciam planejamento e audácia, configurando um ataque direto ao poder público.
Por trás da execução, revela-se também uma fragilidade institucional que precisa ser urgentemente enfrentada. Fontes, embora ainda em entidade pública, não dispunha de escolta permanente ou mecanismos adequados de proteção para alguém sob ameaças de morte constantes. Especialistas em segurança pública e direito defendem que ex-agentes que atuaram contra o crime organizado devam ter garantias especiais, devido ao histórico de retaliação e riscos contínuos.
A apuração do crime mobilizou equipes especializadas, que trabalham intensamente no cruzamento de provas balísticas, imagens das câmeras, depoimentos e interceptações. A expectativa é que se desvende a rede de mandantes e executores, garantindo justiça e impedindo que atos tão ousados se repitam.
A repercussão não pode ser menor. Autoridades de segurança, parlamentares e setores da sociedade civil expressam profundo pesar e reiteram compromisso com a memória de Fontes e o combate às facções. Ao mesmo tempo, o episódio exige respostas concretas, que incluam a revisão das políticas de inteligência, melhor coordenação interinstitucional e protocolos aprimorados de proteção a profissionais da segurança pública.
Em um cenário onde o crime organizado demonstra audácia para desafiar o Estado, a morte do ex-delegado representa um sinal claro: o enfrentamento às facções não pode ser apenas na ponta das operações, mas deve incorporar estratégias sólidas de proteção e prevenção capazes de preservar vidas e fortalecer a ordem pública.
"Policiais militares atenderam rapidamente à ocorrência e localizaram o veículo utilizado pelos criminosos. A cena foi preservada para a realização da perícia, e o caso está sendo registrado na Polícia Civil. Equipes estão em campo, realizando diligências e utilizando ferramentas de inteligência para identificar, prender e responsabilizar os envolvidos", afirma a nota.
O Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Sindpesp) manifestou pesar pela "perda irreparável" de Fontes — que era um dos principais expoentes no combate ao crime organizado, com "reconhecida atuação contra a facção Primeiro Comando da Capital".
O sindicato também criticou o governo do Estado de São Paulo.
"A ação que resultou na execução de Ruy Ferraz Fontes, o qual, há poucos anos, ocupou o cargo de comando máximo da Polícia Civil bandeirante, escancara a forma como o Governo do Estado de São Paulo cuida de seus policiais mais dedicados, ao mesmo tempo em que torna gritante a necessidade de a Polícia Civil ser melhor tratada, com efetiva valorização de seus profissionais, mais contratações e aumento nos investimentos em estrutura física e de materiais", afirma a nota.
Como repercutiu o caso entre outros órgãos e autoridades
-
Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública de São Paulo:
"Lamento o assassinato do delegado aposentado Ruy Ferraz Fontes, secretário em Praia Grande e ex-delegado geral. Determinei integração de força-tarefa, com prioridade definida pelo governador Tarcísio, para prender os criminosos. O procurador-geral de Justiça ofereceu o apoio do Gaeco."
-
Governador Tarcísio de Freitas:
"Estou estarrecido. É muita ousadia. Uma ação muito planejada, por tudo que me foi relatado. O delegado Ruy percebeu que estava sendo atacado, tentou escapar da emboscada, mas foi covardemente assassinado."
-
Associação dos Delegados de Polícia do Brasil:
"Trata-se de uma tragédia de proporções inenarráveis, que atinge não apenas a Polícia Civil, mas toda a sociedade brasileira, pois cala uma voz firme e comprometida com a lei, a justiça e a proteção da cidadania. Sua dedicação, coragem e os enormes prejuízos impostos às organizações criminosas fizeram dele alvo da violência que sempre combateu com bravura."
-
Diretora do Instituto Sou da Paz:
"Brutal a execução do ex-delegado geral Ruy Ferraz Fontes na Baixada Santista esta noite. Minha solidariedade à família. Resta às polícias apurar urgentemente o caso. Há que ser duro com esse caso, mas não podemos ter mais matança na Baixada Santista. É preciso agir com inteligência e investigação e não mais violência."
-
Ex-promotor Marcio Christino:
"Estou em choque, fui o último a falar com ele [por telefone]."
(*) Com informações das fontes consultadas: Polícia Civill, Secretaria de Segurança do Estado de São Paulo, CNN Brasil, G1, UOL, Agência Brasil, VEJA, SBT News, CartaCapital entre outras.
|