A arrecadação de impostos em junho de 2025 somou R$ 193,4 bilhões, segundo dados divulgados pela Receita Federal, registrando uma alta real de 4,2% em relação ao mesmo mês do ano passado. O resultado reflete a recuperação gradual da atividade econômica, o avanço na formalização do mercado de trabalho e, principalmente, o reforço das medidas fiscais adotadas pelo governo.
Um dos principais fatores de atenção do mercado neste início de segundo semestre é o decreto presidencial que elevou as alíquotas do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), cuja validade foi confirmada nesta semana pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
A decisão de Moraes representou um alívio para a equipe econômica, que contava com a arrecadação adicional proveniente do novo IOF para ajudar no equilíbrio das contas públicas em 2025. O governo estima um reforço de cerca de R$ 18 bilhões até dezembro, montante considerado estratégico diante das pressões por gastos sociais e investimentos em infraestrutura.
Impacto imediato nas projeções
Especialistas avaliam que a manutenção do decreto confere previsibilidade à política fiscal. “Essa decisão consolida um colchão de arrecadação que pode fazer diferença na meta fiscal do ano”, afirma Luciana Andrade, economista-chefe da Modal Insights.
Segundo projeções da própria Receita, a arrecadação total de 2025 pode ultrapassar a marca de R$ 2,5 trilhões, superando em mais de R$ 100 bilhões o volume registrado em 2024. A maior parte desse crescimento virá do IOF e de tributos sobre consumo, além do desempenho mais robusto do setor de serviços.
Setores mais afetados
Com o novo decreto, operações de crédito, câmbio e seguros passaram a pagar alíquotas maiores de IOF desde maio. O impacto mais sentido, até agora, está nas operações de pessoas físicas com cartão de crédito internacional, além de empréstimos corporativos de curto prazo.
Representantes do setor financeiro criticam a medida, alegando que ela encarece o custo do crédito e desestimula investimentos. O governo, por outro lado, argumenta que a elevação é temporária e tem como objetivo compensar perdas decorrentes de desonerações em outras áreas.
Olhar político e fiscal
A decisão do STF também foi lida como uma vitória política para o Palácio do Planalto, que enfrenta dificuldades no Congresso para aprovar medidas estruturais. A autorização para manter o decreto fortalece a narrativa de responsabilidade fiscal defendida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Apesar do reforço na arrecadação, analistas alertam para a necessidade de reformas estruturantes, como a regulamentação da reforma tributária aprovada em 2023, que ainda depende de leis complementares.
“O IOF é um imposto que pode ser útil em emergências fiscais, mas não deve ser tratado como solução permanente. A estabilidade virá com um sistema tributário mais eficiente e previsível”, resume o tributarista José Roberto Rangel, da FGV.
E o povo, como fica?
Com o aumento do IOF, quem sente mais rápido no bolso são os consumidores de menor renda, especialmente aqueles que dependem de crédito para compras emergenciais ou parcelam contas no cartão.
O IOF é embutido em diversas operações financeiras, como:
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Financiamentos de eletrodomésticos
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Empréstimos pessoais e consignados
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Uso de cartão de crédito, especialmente internacional
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Seguros e operações de câmbio
Na prática, isso significa que o empréstimo feito por uma diarista, o carnê de uma geladeira comprada a prazo ou o seguro obrigatório de um motoboy autônomo ficam mais caros.
Por outro lado, o governo promete reverter parte da arrecadação extra em políticas sociais. Programas como o Bolsa Família, o Pé-de-Meia (poupança para estudantes do ensino médio público) e obras de infraestrutura em áreas carentes devem ser fortalecidos com o caixa mais cheio.
Economistas alertam, no entanto, que esses repasses não são automáticos. Sem uma regra clara de vinculação, o aumento da arrecadação pode não chegar diretamente à população mais pobre.
“A alta do IOF tem impacto regressivo. É importante que o governo compense isso com políticas públicas direcionadas”, analisa a socióloga Maria Elisa Mendonça, da USP.
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* Vicente Barone é analista político, editor chefe do Grupo @HORA de Comunicação, esteve à frente de diversas campanhas eleitorais como consultor político e de marketing, foi executivo de marketing em empresas nacionais e multinacionais, palestrante nacional e internacional para temas de marketing social, cultural, esportivo e de trasnporte coletivo, além de ministrar aulas como professor na área para 3º e 4º graus - www.barone.adm.br
* Com informações:
Fontes da matéria principal
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Receita Federal do Brasil
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Boletim Mensal de Arrecadação Federal – Junho de 2025
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Disponível em: https://www.gov.br/receitafederal
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Dados oficiais da arrecadação tributária por tributo e por mês.
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Supremo Tribunal Federal (STF)
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Ministério da Fazenda
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Instituto Brasileiro de Economia da FGV (IBRE/FGV)
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Banco Central do Brasil
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Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)
Fontes do box especial “E o povo, como fica?”
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Pesquisa “Tributação e Pobreza no Brasil” – USP/Fipecafi (2024)
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Relatório do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc)
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Entrevista com a socióloga Maria Elisa Mendonça – Universidade de São Paulo (USP)
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Dados do programa Bolsa Família e Pé-de-Meia
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Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste)